Noite da Alma - Booktrailer

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Uma Prendinha de Natal para todos vós! ^_^

   Olá a todos :)

   Pois é… como muitos de vocês sabem faz este mês 1 Ano que lancei o meu 1º livrinho, “Noite da Alma”.

   O ano 2012 foi um ano cheio de trabalho e de grandes conquistas. Muitas ideias, muitas esperanças, muitos desafios e expectativas, algumas alcançadas, outras nem por isso.

   Assim, resolvi dar a todos os que me acompanharam (de perto e de longe) nesta laboriosa aventura que foi editar um livro uma pequena Prendinha de Natal.

   Como todos sabemos, para a maioria dos autores portugueses, decidir editar um livro em Portugal pode comparar-se, em muitos aspectos, a dispormo-nos a travar uma pesada batalha. Nada é fácil ou acontece como esperávamos… e, com excepção daqueles que nos amam e daqueles que nos lêem, os aliados são muito poucos.

   Por isso, dedico esta prenda a todos vós. 
   . A todos os que leram “Noite da Alma”, quer tenham gostado quer não… 
   . A todos os que me escreveram, dando-me as vossas opiniões… 
  . E, especialmente, a todos os que ficaram à espera de uma continuação.

   Isto porque, como leitora compulsiva, sei o quanto é triste ficarmos pendurados a meio de uma história que nos despertou o interesse.

    Mas e então? Que raio de prenda é esta? ^_^

    Pois é… se calhar até já adivinharam. :)

   A partir de hoje, todos os dias colocarei online 1 capítulo de “Tempo da Alma”, o livro que dá continuação a “Noite da Alma”, o qual poderão ler online, gratuitamente.

   Trata-se de uma versão completa, sem os cortes que necessariamente terão de ser feitos quando finalmente o editar. Sim, porque não é que tenha desistido de o editar. Simplesmente não sei quando é que será possível fazê-lo, e não vos quis deixar à espera por mais tempo.

   Os capítulos ficarão online até dia 15 de Janeiro de 2013 (isto, é claro, se o mundo não acabar entretanto ^_^).

   Poderão aceder-lhes através do meu blog ‘Momento a Momento’, ou no Site Oficial.

   Espero que gostem e deixem as vossas opiniões! Gosto sempre de saber o que pensam sobre o meu mundo ^_^



Ah… E Feliz Natal (adiantado ^_^)!






segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Apresentação do Livro "Noite da Alma" - Quarteira


Apresentação do Livro "Noite da Alma" 
- Quarteira -


Data: 22/08/2012


Local: Quarteira 
 Galeria Praça do Mar 



 Apresentação do Livro
"Noite da Alma" 



Com o Apoio da Câmera Municpal de Loulé




Um grande obrigada ao Eng.º Luís Guerreiro e à minha tia, Dina Carapeto, bem como a todos os presentes. . 



Apresentação do Livro "Noite da Alma" - ESPA


Apresentação do Livro "Noite da Alma" - ESPA


Data: 05/03/2012


Local: ESPA 
 Escola Secundária de Pedro Alexandrino 



 Apresentação do Livro
"Noite da Alma" 



Projecto
"Como Escrever um Livro"


* Um grande obrigada às Professoras Inácia Camacho e Isabel Mendes, bem como a todos os presentes. 



sábado, 18 de agosto de 2012

Apresentação do Livro "Noite da Alma"


Apresentação do Livro "Noite da Alma", na Galeria Praça do Mar, em Quarteira.

Estão todos convidados! Apareçam! ^_^


terça-feira, 8 de maio de 2012

Magia e Religião: De Mãos Dadas



Magia e Religião: De Mãos Dadas

Tempos houve em que a Religião e a Magia se encontravam fundidas, significando uma e a mesma coisa. O Sacerdote ou o Xamã era tanto o Mago que manipulava as forças da natureza, como o curandeiro e o líder espiritual, que orientava a comunidade onde se encontrava integrado.

Actualmente encontra-se estabelecida uma barreira cognitiva entre a visão que se tem da Magia e da Religião, pelo que a primeira tem tendência a ser menosprezada ou criticada, e a segunda a ser aceite com naturalidade, sendo que é considerado normal uma pessoa seguir uma Doutrina ou uma Fé, mas uma ida à bruxa ou a prática de um Ritual Mágico é algo que só se confessa em segredo, timidamente e por entre amigos.
Mas até que ponto é que estes dois aspectos da Crença Humana são assim tão distintos?

Com origens ancestrais, a palavra Magia (que não deve ser confundida com a magia de palco ou o ilusionismo) provém da língua Persa magus ou magi, que significa ‘Sábio’. Da palavra magi derivaram ainda outros termos, os quais aplicamos hoje em dia, como ‘magistério’, ‘magistral’ ou ‘magno’.

Na Antiguidade, a Magia era considerada como a Grande Ciência Sagrada, responsável pelo estudo dos segredos da Natureza e a sua relação com o Homem, através dos quais foram desenvolvidas diversas teorias e práticas que tinham como objectivo o desenvolvimento e a expansão das capacidades internas, espirituais e ocultas do Homem, de modo a que este fosse capaz de conquistar o domínio total sobre si mesmo e sobre a Natureza, que ditava a base dos ritmos vitais.

Por esse motivo, as práticas Mágicas tinham como base a execução de rituais e cerimónias, que procuravam estabelecer o contacto com os aspectos ocultos do Universo e da Divindade.


Os seus antecedentes são tão arcaicos que se crê que o Homem primitivo já a praticava, através de desenhos nas paredes das cavernas, representando cenas de caça, que anteviam o seu sucesso.

Outra das práticas mágicas mais antigas praticadas prende-se com os rituais fúnebres e o desenvolvimento dos sistemas mitológicos divinos, através da nomeação das forças da Natureza (Apolo, o Sol; Neptuno, os Mares; Artémis, a Lua, etc…)´

A palavra Religião, por seu lado, provém do latim relegio, que significa ‘prestar culto a uma divindade’. Refere-se, assim, a um conjunto de crenças sobre as causas, natureza e finalidade da vida e do universo, considerando a Criação do mundo e de todas as formas de vida como o acto de uma entidade sobrenatural.

A maior parte das Religiões inclui, nos seus Escritos Sagrados, narrativas, tradições ou contos que se destinam a dar sentido à vida, e das quais se podem tirar elações morais e éticas ou leis religiosas. A palavra Religião é, ainda, muitas vezes usada como sinónimo de fé ou crença, embora difira de crença na medida em que a Religião é um sistema público e não apenas pessoal/individual.

A maior parte das Religiões implica uma série de comportamentos organizados, incluindo orações, hierarquias sacerdotais, lugares sagrados, escrituras e rituais, como determinadas celebrações.
Observa-se, assim, que, ao contrário do que a maioria afirma, a ponte entre a Magia e a Religião mantém-se, mesmo na actualidade, pelo que até os Escritos Sagrados de algumas das grandes Religiões do mundo não a negam, e até incluem a presença de Magos.

Por exemplo, segundo o Novo Testamento, o nascimento de Jesus é celebrado por três Magos e, no Velho Testamento, Moisés confronta os Magos do Egipto.

Nos Vedas, no Bhagavad Gita, no Alcorão e em diversos textos sagrados, verificam-se relatos semelhantes.

As actividades ritualistas praticadas pelas Religiões também preservam grande parte dos Rituais Mágicos dos povos antigos. A Hóstia Sagrada da Eucaristia é tomada pelo Espírito Santo, assemelhando-se a incorporação dos médiuns espíritas.

De igual modo, nas antigas festas romanas dadas em honra da deusa Ceres, o Arval, assistente do Grande Sacerdote, vestido de branco imaculado, colocava sobre a Hóstia (a oferenda do sacrifício) um bolo de trigo, água e vinho; provava o vinho e dava-o a provar aos presentes. A Oblação (ou oferenda) era então erguida pelo Grande Sacerdote.

Num paralelismo simbólico, os padres da Igreja moderna repetem muitos destes gestos durante a celebração da Eucaristia. Erguem e oferecem o pão para a consagração, benzem a água que deve ser posta no cálice, misturam o vinho que é partilhado com os restantes Sacerdotes, incensam o altar, etc.

Nos rituais da Antiguidade, o Grande Sacerdote dava três voltas ao altar, levando as oferendas, erguendo, acima da cabeça, o cálice coberto com a extremidade da sua estola feita de lã de cordeiro, branca como a neve.

Na Igreja Católica, a vestimenta consagrada, usada pelo Papa, Pallium, é de lã branca, com cruzes púrpuras ou pretas. E, na Igreja grega, o padre cobre o cálice com a extremidade da estola que traz sobre os ombros.

Os antigos acreditavam no poder dos Homens, e que através da Magia seriam capazes de comandar os deuses. Estes deuses são, na verdade, os poderes ocultos e latentes da Natureza. Actualmente, os crentes não têm a intenção directa de comandar Deus, mas negoceiam com Ele, fazendo pedidos em troca de pagamentos, a que denominam de Promessas: ‘Se o Senhor me conceder isto, juro que farei aquilo. Se não, nada feito.’

No fundo, poderia dizer-se que nos encontramos perante um Ritual de Magia, onde é necessário juntar uma série de ingredientes e orações para que o acto/milagre se realize, com a diferença de que as oferendas e sacrifícios só são feitas após o milagre e não antes, como os antigos faziam, como forma de agradar os deuses e assim cair na sua boa graça.

A grande fractura entre Religião e Magia, deu-se durante a Idade Média, no período da Inquisição, onde os Magos foram perseguidos, julgados e queimados vivos pela Igreja Católica, sob justificação de que a Magia provinha do Demónio e, como tal, tinha origem no Mal. Como se sabe, estas perseguições lançaram o mundo na conhecida Idade das Trevas, uma vez que os Magos eram, na verdade, os Sábios, os detentores do conhecimento e os primeiros pioneiros das várias correntes que vieram a dar origem a algumas áreas da filosofia e ciência contemporânea; conhecimento esse que se manteve perdido até à altura de Renascimento.

O paralelismo entre a Religião e a Magia estende-se em muitos outros campos, desde a oração repetida, que se assemelha às ladainhas mágicas, ao uso de ervas sagradas e às datas das principais celebrações religiosas, como o Natal ou a Páscoa, as quais tiveram origem nos momentos considerados, pelos Povos Antigos, como propícios à prática da Magia, por coincidirem com os ritmos mais marcantes da Natureza e dos Corpos Celestes.


- Sophia C.*

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

CONTO: Guardião

Guardião




O mundo que me rodeia é estranhamente silencioso.
O meu olhar, absorto, encontra-se fixo numa simples sanduíche de pão de forma com manteiga de amendoim crocante, compota de morango e alface: a minha sanduíche preferida e, como é lógico pela estranheza do conjunto dos ingredientes, um segredo bem guardado.
- Li! Também vens, não vens?
Olho em meu redor. Os rostos que agora me observam, com expressões expectantes e interessadas, são me conhecidos e familiares mas, mesmo assim, sinto-me levemente perdida.
- Ir…?! Onde?
- Ao café, depois das aulas! - responde-me uma voz impaciente, como se tivesse acabado de me informar de algo que era minha obrigação saber, e uma mão quente e pesada pousa sobre o meu ombro, sobressaltando-me.
- É claro que ela vai! - responde uma voz quente e calorosa, a qual agradeço mentalmente. De todos os rostos que me rodeiam, este é o que me é mais querido. Vera é uma verdadeira amiga do peito. E a conversa prossegue, as palavras alegres e excitadas das minhas colegas vibrando-me nos ouvidos, deixando-me confusa.
- Será que ele também vem?
- Não sei porque não há-de vir. O Marcus e os outros já confirmaram.
- Ah! Só espero que tenhas razão! E se ele calhar sentado ao meu lado?! Só de pensar fico toda arrepiada!
- Eu acho que era capaz de desmaiar!
- Ele tem de vir! - tornou outra voz esperançada e, num movimento de cabeça que sacudiu diversas madeixas de caracóis alourados, olhos verdes e brilhantes de ansiedade voltam a fixar-se sobre a minha pessoa. - Li! Tens de o arrastar! Custe o que custar!
Pestanejo repetidamente e o súbito silêncio que me rodeia deixa-me ainda mais confusa. Observo os rostos ansiosos e expectantes das raparigas que me rodeiam e franzo a testa sem compreender.
- Arrastar… quem? - questiono inocentemente, e expressões de desagrado e desprezo substituem as que até ainda há pouco me observavam com esperança.
- Nem sei para que é que perdemos tempo com ela!
- Irra que é mesmo idiota!
- Se não é, imita muito bem.
- Egoísta! É o que ela é!
E, por entre comentários do género, vejo-me subitamente abandonada, sentada à mesa do refeitório, onde o burburinho constante é testemunha mais do que suficiente de que nos encontramos na hora do almoço.
Vera suspira pesadamente e deixa-se sentar na cadeira ao meu lado. Fito-a numa questão silenciosa, forçando o cérebro de modo a tentar compreender o que acaba de acontecer, e ela volta a suspirar.
- Às vezes, Li, és mesmo insensível - comenta num tom exasperado e, embora saiba que ela tem razão, sinto-me ofendida com a sua crítica.
- Porquê? O que é que eu fiz?
Vera dirige-me um olhar severo mas, perante a minha expressão de incompreensão, desiste de me castigar.
- Nada… suponho. Mas logo agora que a tua fama estava a melhorar é que resolves desagradá-las… Enfim, sempre soube que não tinhas nascido para ser popular. Mas pensei que este ano talvez pudesses deixar de ser a coitada da escola. - Amuei, cruzando os braços, e Vera respirou fundo, passando uma mão carinhosa pelos meus cabelos. - Seja como for, Li, se estás zangada com ele o melhor é fazeres as pazes. Não não me parece que sejas pessoa de guardar rancor. Vai acabar por te corroer por dentro.- declarou num tom suave e solícito que, uma vez mais, não compreendi.
Contudo, quando me voltei para a questionar, o toque soou estridentemente, silenciando os ruídos do mundo e, instantes depois, juntávamo-nos à torrente estudantil que entupia os corredores e regressávamos à sala de aula.
Fugi mal tocou para a saída. Fugi inclusive de Vera. Não queria ir a café nenhum. Muito menos para receber olhares e expressões de desprezo, ou comentários desagradáveis. Aliás, o que é que as levara a convidarem-me em primeiro lugar? Nunca pertencera ao seu grupo. Tudo o que desejava era passar despercebida e que me deixassem em paz, de forma a que a minha vida académica pudesse terminar tal como começara: de modo incógnito e pacífico. De qualquer forma, naquele momento, não me sentia capaz de fingir ser quem não era. Não quando carregava o peso de um segredo assustador como aquele que, desde o dia anterior, andava às reboletas na minha cabeça.
Foi com receio que abri a porta de casa, e com mais receio ainda que me dirigi ao meu quarto. Abri a porta devagar, silenciosamente, e espreitei antes de entrar. O suspiro que me deixou os lábios foi de profundo alívio. Estava tudo na mesma, notei… Desta vez nada fora mudado.
Pousei a mala da escola em cima da secretária e o meu olhar recaiu sobre a cama que a minha irmã ocupara, antes entrar para a Universidade. O arrepio que me percorreu deixou-me nervosa e decidi ignorar aquela parte do quarto. Entretive-me a tirar os livros da mala e a preparar-me para fazer os deveres de casa… Não pensaria mais naquele assunto. Fingiria não saber de nada! Cumpriria a minha rotina diária como sempre acontecia e, quando os meus pais chegassem, já teria feito os trabalhos de casa e posto a mesa para o jantar.
Os meus pensamentos e intenções fragmentaram-se de repente quando dei de caras com a prova irrefutável de que algo de estranho e claramente errado estava a acontecer. No fundo da minha mala, a sanduíche de manteiga de amendoim e compota de morango observava-me ameaçadoramente.
Fechei a mala de imediato, o coração batendo-me desenfreado contra o peito. Tivera esperanças de a ter imaginado! Porque não fora eu quem a pusera ali dentro! Não fora eu quem a preparara! E, juntamente com todos os outros estranhos acontecimentos que ultimamente me rodeavam, aquela era apenas mais uma prova. Só podia concluir o inevitável: O meu quarto estava assombrado! Eu estava assombrada!
Passei uma mão trémula e húmida pelo rosto.
No dia anterior, a meio da noite, acordara com o som de passos, e depois a luz do candeeiro, que ficava do outro lado do quarto, fora subitamente acesa! Encolhera-me por entre os lençóis, puxando-os até às orelhas. Fechara os olhos com força e desejara com fervor ser capaz de deixar de existir, por instantes. Os passos tinham-se aproximado da minha cama e quase podia jurar que algo me tocara, ao de leve. E depois, naquela manhã, quando abrira a mala para tirar o caderno referente à aula do primeiro tempo, encontrara a sanduíche, feita tal como eu gostava; um segredo acerca do qual só a minha mãe tinha conhecimento.
O toque do telemóvel assustou-me e procurei-o nervosamente, por entre os bolsos da mala. O nome de Vera brilhava no ecrã.
- Sim! - exclamei, ainda sob sobressalto, e os ruídos de fundo característicos de um local público chegaram-me do outro lado da linha.
- Li! Onde raio é que estás quando devias estar aqui?? Está cá toda a gente! Mexe-me esse rabo e põe-te aqui imediatamente! - ordenou-me num tom imperial e, logo a seguir, desligou.
Por momentos ainda fiquei pendurada no pequeno telemóvel, escutando o som intermitente da linha que caíra. Depois enfiei à pressa a carteira e as chaves dentro da mala e quase corri para fora do quarto. Qualquer coisa menos ficar ali, sozinha!, pensei com o coração a bater-me na garganta. E, instantes depois, estava de novo na rua, encolhendo-me contra o vento frio que soprava. Imediatamente, senti-me mais segura, embora soubesse que, mais tarde ou mais cedo, teria de regressar ao quarto assombrado.
Quando cheguei ao café do costume espreitei através da montra, timidamente. O grupo formado pelos meus colegas distinguia-se à distância e as suas vozes alegres ouviam-se mesmo na rua. Com um suspiro empurrei a porta de vidro, cujo guizo anunciou imediatamente a minha presença, e uma rapariga forçou um sorriso, dando-me as boas vindas. O mais certo era estar farta de nós e das nossas algazarras, e ocultar algures dentro de si o desejo profundo de nos ver pelas costas. Mas trabalho é trabalho, ou pelo menos era o que o meu pai nos dizia constantemente, e é o trabalho que nos põe o pão na mesa.
Vera avistou-me rapidamente e acenou-me com entusiasmo. Fiquei imediatamente agradecida pela sua presença e pelo apoio que ela implicava. Estava bem ciente de que não pertencia àquele mundo e, como qualquer extraterrestre, temia as represálias dos seres nativos que o habitavam.
Com um ‘boa tarde’ sumido, deslizei para o banco a seu lado e suspirei de alívio quando ninguém pareceu ter-me escutado.
Ali, entre chávenas de café e fatias de bolo caseiro, rapazes e raparigas da minha idade conviviam alegremente, partilhando os seus mundos que, ao contrário do meu, encaixavam na perfeição uns com os outros. Reconheci imediatamente o grupo que me tinha abordado, à hora do almoço. Contudo, naquele momento, o foco da sua atenção estava longe de ser alguém tão insignificante como eu. E os rapazes com quem conversavam esforçavam-se arduamente por serem dignos do seu interesse.
- Ele veio, já viste? - comentou Vera num sussurro sonhador. - Nem sabes a sorte que tens! E por isso devias ser um bocadinho mais compreensiva com o resto de nós, pobrezinhas, que só o podemos admirar de longe. Nem sabes as invejas que tenho!
O meu olhar vagueou pelas mesas que tinham sido arrastadas e unidas de modo a formar um comprido corredor.
Ele quem…?, de entre tantos eles? E no que é que eu tinha sorte? Para não falar em invejas de quê!?
Vera suspirou e deixei-me deslizar até à ponta do banco, como se desejasse desaparecer por baixo da mesa. Lugares como aquele eram um verdadeiro inferno para pessoas com uma personalidade introvertida como a minha.
- Chama-o, Li! Só para ele olhar para aqui! - pediu-me numa expressão de súplica e, uma vez mais, fitei-a sem compreender.
- De quem é que estás a falar?
A expressão de Vera modificou-se imediatamente e não pude deixar de notar em como se tornara parecida às das minhas colegas, quando me tinham abandonado à mesa do almoço.
- Às vezes és mesmo irritante! Bem sei que estás zangada! Mas isto é infantilidade! Até quando é que vais fingir que ele não existe? - indagou severamente, erguendo o tom de voz e, quando dei conta, um silêncio sepulcral rodeava-me e dezenas de olhos fixavam-se em mim em expressões de acusação e condenação silenciosas.
As faces pegaram-me fogo e senti-me tremer. Sem pensar no que fazia, ergui-me do banco e apertei a mala com força.
- Vocês…! Eu sei lá do que é que vocês estão a falar!! - gritei exasperada, fechando os punhos e os olhos com força, e o nó amargo que me apertou a garganta obrigou-me a fugir daquele lugar.
Foi com dificuldade que contive as lágrimas, o ar frio do fim de tarde ajudando-me a recuperar a calma. Deambulei pelas ruas sentindo-me magoada e triste… e logicamente confusa.
Ao contrário do que planeara, quando regressei a casa os meus pais já tinham chegado. Pedi desculpas pelo atraso e ajudei a minha mãe a pôr a mesa. Pelo menos, enquanto ocupava o cérebro com actividades com aquela, mundanas e diárias, não pensava no resto; nem na vergonha que passara nem no quarto assombrado que me aguardava. Só quando nos sentámos à mesa é que reparei no lugar que fora colocado a mais. O arrepio que me percorreu deixou-me o estômago enrolado e, com urgência, busquei o rosto dos meus pais, à espera que alguém o notasse. O que não aconteceu… Com um suspiro o meu olhar de comiseração voltou-se para a minha mãe. Sabia que ela sentia falta da minha irmã, que saíra de casa no início do ano. Aquele costumava ser o lugar dela… E talvez a minha mãe se tivesse distraído. Ou talvez desejasse apenas recordá-la com aquele gesto.
Quando acabámos de arrumar a louça do jantar já eram perto das dez da noite e, com aquela última tarefa, esgotaram-se as minhas desculpas.
Por instantes ainda me senti tentada a partilhar os meus medos, mas depois… quem é que iria acreditar numa insanidade daquelas? Um quarto assombrado! Sinceramente! Loucura, esquizofrenia, distúrbio de personalidade, isso sim! Seriam o meu veredicto, com toda a certeza. Por isso remeti-me ao silêncio com um suspiro pesado, e praticamente me arrastei até à porta do quarto.
Tal como fizera antes, primeiro espreitei e, ao ver que a dependência estava vazia, entrei pé ante pé. Depois acendi tudo o que eram luzes de candeeiros e enchi-me de coragem para espreitar debaixo das camas e dentro do armário. Como era lógico e seria de esperar, nada! Respirei fundo, aliviada, e resolvi fazer os trabalhos de casa. Pelo menos tinha de concluir os que eram para ser apresentados no dia seguinte, ou teria alguns zeros na caderneta…!
Não sei como adormeci… nem o que é que me despertou.
Sei que de repente me endireitei num salto, como se alguém tivesse gritado o meu nome, e só então compreendi que estivera a dormir. Ainda me encontrava sentada à secretária, a cadeira dura magoando-me o rabo. E a sensação de algo a deslizar-me pelos ombros deixou-me o coração a bater a 1100 à hora! Em câmara lenta obriguei o pescoço enrijecido a mover-se e a rodar, até que o meu olhar ficou preso sobre o que, irrefutavelmente, era o meu roupão de quarto. Alguém me cobrira, concluí com um suspiro. Provavelmente a minha mãe, ao espreitar-me antes de se ir deitar e ao verificar que eu adormecera.
O som de um leve desfolhar deixou-me novamente sob sobressalto e, desta vez, não fui capaz de deixar de tremer. Por instantes deixei-me ficar imóvel, aguardando a constância do silêncio que me garantiria que eu me enganara e imaginara o ruído que tanto me assustara. Mas, para meu desespero, instantes depois ele voltou a repetir-se. Quis gritar e fugir o mais depressa possível, e foi com dificuldade que optei pela opção mais digna e corajosa, obrigando-me a movimentar a cabeça novamente e a olhar na direcção da cama do lado.
A luz do candeeiro estava acesa. A mesma que vira acesa na noite passada. E, por entre o batimento enlouquecido e ensurdecedor do meu coração, os meus olhos incrédulos e aterrorizados viram o que me pareceu ser um vulto, deitado sobre a cama. Engoli em seco, incapaz de deixar de tremer. Só podia estar a enlouquecer! E no entanto, o leve desfolhar repetiu-se, contrariando-me imediatamente.
- Quem és tu…? - A pergunta deixara-me os lábios num tom de voz quebrado e rouco, antes mesmo de me ter consciencializado do que fizera. E, para meu pânico, o vulto pareceu ouvir-me, pelo que se deteve por momentos para, logo a seguir, se voltar na minha direcção.
- Quem sou eu…?! Estás a falar a sério?
Pestanejei repetidamente. Ainda estaria a sonhar? Só podia, concluí! Sonhara que acordara mas na verdade ainda estava a dormir!
Ele voltou a mover-se, deixando-me à beira do pânico, e pareceu-me sentar-se.
- Isso é a única coisa que tens para me dizer? - indagou, num tom agreste e magoado. E, embora a sua voz fosse profunda e quente, senti-me completamente gelada. Um suspirou deixou-lhe os lábios, e pareceu-me que ele se inclinara para a frente, apoiando a cabeça sobre as mãos. - Não sei mais o que fazer… Nunca desejei nada disto… Nunca foi minha intenção…
O seu murmúrio deixou-me um peso amargo sobre o peito e, de alguma forma, essa sensação foi substituindo o terror insano que, até ali, me consumira. E depois, como que por milagre, a luz do candeeiro pareceu tornar-se mais brilhante, e o que fora um vulto disforme ganhou formas físicas e contornos distintos.
Por momentos vi-me incapaz de respirar. Mal podia acreditar no que via! Afinal o vulto era humano! Tinha pernas e braços, e cabeça como eu. Os cabelos negros que lhe deviam dar pelos ombros pendiam-lhe agora para a frente. As suas pernas eram compridas, fazendo com que a cama parecesse baixa. E as calças de ganga ruças que vestia combinavam com o blusão gasto e esgaço. Ao seu lado repousava um livro aberto, as folhas voltadas para baixo, e compreendi a origem do desfolhar que escutara: até eu o perturbar ele estivera a ler aquele livro, agora deixado ao abandono.
Uma inspiração profunda elevou-lhe os ombros largos e depois vi-o erguer a cabeça. A dor que se espelhava no seu rosto belo, quase perfeito, deixou-me perplexa. Os olhos, de um castanho dourado como o âmbar, fitaram-me com pena.
- Talvez o melhor seja deixar-te… Mas não tens com o que te preocupar. De certo que enviarão alguém mais competente para o meu lugar - concluiu num tom amargo que, de certa forma, me magoou. Mesmo assim vi-me incapaz de lhe responder, o meu cérebro demasiado atónito com tudo aquilo e, perante o meu silêncio, ele limitou-se a suspirar pesadamente, e ergueu-se num movimento extraordinariamente belo e harmonioso. Tive de inclinar a cabeça para trás, para continuar a fitá-lo. Ele era demasiado alto. - Lamento toda esta confusão… - disse-me num tom de pena sentido. - E lamento ter-te… assustado tanto. Quem me dera que as coisas pudessem ter acontecido de forma diferente. Mas arrependimentos não levam a nada e por isso… Adeus, Aliana.
O meu nome na sua voz deixou-me sem fôlego. Porque ninguém me chamava assim! Ninguém menos ele! E eu já o ouvira antes, chamar-me daquela forma.
Fitei-o confusa e perdida, sentindo o coração bater-me contra o peito com urgência. Havia qualquer que eu precisava de recordar. Algo tão importante como a minha própria vida. Algo que me fugia constantemente.
O sorriso triste que lhe rasgou os lábios foi como um punhal ardente, cravando-se-me no peito. E depois, inacreditavelmente, ele começou a brilhar, como se a sua pele fosse incandescente.
Ele estava a deixar-me!; constatei. Tal como acabara de me dizer que faria. E eu continuava ali, incapaz de reagir.
A onda de desespero que me preencheu deixou-me a soluçar e de respiração descontrolada. Mesmo incapaz de compreender o que estava a acontecer sabia que ele não podia ir e deixar-me ali, sozinha! Simplesmente não podia! E de repente, por entre a dor sem explicação que me dilacerava o corpo, finalmente soube porquê!
- Hazael!! - gritei, erguendo-me de um salto, e olhei em pânico à minha volta. Penas brancas flutuavam lentamente em direcção ao chão, ocupando o local onde, até há instantes atrás, ele se encontrara. O livro permaneceu sobre a cama. - Hazael!- voltei a chamar, insistindo em olhar ao meu redor, apenas para constatar, uma vez mais, que estava sozinha. Os olhos picaram-me penosamente e lágrimas quentes deslizaram-me pelo rosto.- Não… não me deixes… - murmurei entre soluços e as memórias regressaram-me em flashes, agravando ainda mais o meu choro.
Que idiota que fora! Pior! Que cruel! Que fraca!
Recordei as palavras de Vera.
Não é que eu tivesse estado a fingir que ele não existia. Fora pior ainda! Simplesmente esquecera-me da sua existência! E logo dele, que estivera ali por mim, que me acompanhara desde sempre, desde que eu nascera!
Durante muito tempo ele fora de facto uma presença incógnita, e mal acreditara no que via quando, de repente, ele aparecera à minha frente, há cerca de dois anos atrás. Nesse dia de Verão ele salvara-me de morrer afogada, ou pelo menos fora o que eu julgara, até ele me explicar que a razão pela qual me vira incapaz de regressar à superfície do lago, junto do qual passávamos férias, fora, pura e simplesmente, porque algo me prendera… algo que desejava a minha vida… algo que cobiçava a minha Alma.
De lá para cá habituara-me à sua presença. Habituara-me também ao facto de só eu ser capaz de o ver. Ele estava sempre perto de mim… sempre ao meu lado; partilhando a minha vida; sorrindo suavemente. Sentira-me segura, perto dele. Segura ao ponto de esquecer as ameaças de que ele me falara e contra as quais era seu dever proteger-me. E assim fora, até há cerca de um mês atrás.
De repente, vindo do nada, um grupo de criaturas negras e deformadas invadira a minha casa. Ele tentara destruí-las e proteger-me, enquanto os meus pais, ironicamente, viam televisão, tranquilamente sentados na sala. Mas as terroríficas criaturas tinham sido demasiado numerosas. Quando ele quisera tirar-me de casa recusara-me a fazê-lo sozinha e, por esse motivo, ele dera-se a conhecer ao mundo que me rodeava.
Salvar o meu pai e a minha mãe obrigara-o a assumir um papel real nas nossas vidas e, de um momento para o outro, eu ganhara um primo afastado que, subitamente, passara a morar connosco e a frequentar a minha escola.
Desde então a sua vida passara a ser praticamente humana. E não podia espantar-me ou admirar-me com a quantidade de fãs que ele conquistara logo a partir do primeiro dia de aulas. Afinal, ele era simplesmente perfeito, e não apenas a nível físico. Era simpático e atencioso com todos. Era um aluno exemplar em todas as matérias. E, como se isso não bastasse, a aura que o envolvia era aliciante e magnética. O completo oposto de mim…
Mesmo assim, era ao meu lado que ele permanecia, o que forçara muitas das minhas colegas, que até então me haviam olhado com desprezo, a serem simpáticas e cordiais com a sua priminha. E, quando regressávamos a casa, era em mim que ele confidenciava, questionando o mundo humano em que, por minha causa, fora obrigado a viver.
E de repente, há três dias atrás, tudo mudara outra vez.
Limpei as lágrimas com as costas das mãos e solucei amargamente. Era claro que ele me deixara! Só me espantava que não o tivesse feito mais cedo. Era por minha culpa que ele era obrigado a combater aqueles monstros horríveis. Monstros que acabavam sempre por o ferir, embora os seus ferimentos sarassem rapidamente. E eu abandonara-o, sozinho, quando tudo o que ele fizera fora, uma vez mais, proteger-me. Tudo porque, desta vez, o monstro parecera humano. Fora belo, até. E o seu sangue, quando fora ferido mortalmente, fora vermelho como o meu, espalhando-se por todo o lado e derramando-se sobre mim.
O meu estômago revoltou-se, num espasmo.
Entrara em estado de choque. Estava ciente disso. E por isso o meu cérebro traumatizado apagara da realidade que o rodeava tudo o que o pudesse recordar do que acontecera… Tudo incluindo o meu salvador que, com a pele manchada de vermelho e de brilho feroz no olhar, mais me parecera um terrível assassino.
- Hazael…
Deixara de o ver… e ele estivera ali deitado, a noite passada. E naquele dia, na escola… e no café. Fora para ele que a minha mãe colocara o lugar extra na mesa. Fora a sua mão que eu sentira e que me deixara aterrorizada. Fora ele quem me cobrira com o roupão, quando eu adormecera ali sentada.
Deixei-me cair de joelhos no chão, soluçando amargamente.
Eu não queria outro Anjo da Guarda! Se a minha Alma era assim tão importante como ele me dissera, importante ao ponto de ter sido enviado um Guardião para a proteger, então que esse Guardião fosse ele! Porque era a ele quem eu amava; mesmo coberto de sangue e de expressão assustadora. De que outra forma se justificaria que alguém insensível como eu fosse capaz de chorar daquela forma…?
- Por favor, Deus… trá-lo de volta!
Mas se Deus de facto existe, Ele não escutou a minha súplica…
Hoje estou velha e fraca.
O meu olhar, uma vez mais absorto, encontra-se fixo no padrão floral do edredão da minha cama. O ar arrasta-se em sopros lentos e agrestes pelo meu peito. Sei que a vida que me habita se aproxima do seu termo. Mas vivi bem, concluo em retrospectiva.
Fui jovem e inocente. Encontrei quem me amasse e construí uma família. Filhos e netos deixaram o meu quarto, ainda há pouco. O meu companheiro já partiu, pelo que estou sozinha. Fui médica além fronteiras. Ajudei muitos e salvei umas quantas vidas. E, mesmo depois de reformada, continuei a ajudar os que precisavam. Escrevi dois livros sobre vidas e mundos que muitos de nós desconhecemos, e dei a conhecer ao mundo dito evoluído a existência daqueles que sofrem em silêncio. Não trago pesos no peito, como a melancolia ou arrependimento. E sinto-me pronta para embarcar nesta derradeira viagem.
Resta-me apenas um último desejo: voltar a ver o meu Anjo da Guarda.
Ainda recordo vividamente o meu desespero de juventude, depois de ele me ter abandonado tão de repente. Esperei que, tal como ele dissera, outro fosse enviado para o seu lugar… Mas nada acontecera. Ao longo da minha vida foram vários os acontecimentos estranhos que me sucederam, acontecimentos em que julguei sentir a sua presença. Mas, na verdade, nunca mais voltei a vê-lo, embora me tivesse sentido sempre segura e amparada pela memória da sua existência.
Um suspiro deixa-me os lábios secos e ásperos. O meu coração bate fragilmente e temeroso, como as asas de uma borboleta no seu último voo.
- Hazael… pergunto-me se esta era a vida que esperavas que eu vivesse, quando me disseste que eu tinha uma missão a cumprir e que, por esse motivo, foras enviado para me proteger…
A mão suave e quente que pousa sobre a minha cabeça, como se eu não passasse de uma criança, sobressalta-me por breves instantes mas, logo a seguir, deixa-me um sorriso saudoso sobre os lábios.
- Uma vida perfeita, Aliana. - responde-me uma voz quente mas embargada.
Viro o pescoço para o olhar e sinto os músculos da cara distenderem-se-me no sorriso mais brilhante e verdadeiro que me enfeita o rosto, desde o nascimento do meu neto mais novo.
- Vieste para me enviares nesta nova viagem? - questiono e ele sorri-me tristemente. Continua jovem, belo, maravilhoso… tal como o recordo desde o nosso último encontro. O tempo não teve qualquer peso sobre ele. E, tal como então, uma tristeza profunda habita-lhe o olhar cor de âmbar.
Sinto-me ainda mais velha e cansada, o peso de cada ruga que me marca o rosto subitamente físico e palpável. O tempo passara para mim, mas não para ele.
- Nunca te deixei. Jamais seria capaz de o fazer.
Aceno em sinal de compreensão. Sim, eu sei. Sentira-o sempre ao meu lado, ao longo de todos estes anos.
- Mesmo assim, senti a tua falta - confesso e ele volta a sorrir-me.
- Fiz o que era necessário. Porque era inevitável que te amasse, desde que nasceste. Mas jamais poderia permitir que o meu amor por ti pudesse vir a ser correspondido. A tua existência neste mundo é efémera e passageira, e o teu verdadeiro destino aguarda-te, algures neste Universo. Eu, por outro lado, sou perene e um prisioneiro deste mundo. E assim chega que seja eu a sofrer, neste momento de despedida. Agrada-me saber que não te desviei do teu percurso… e fico feliz ao ver-te sorrir e encarar esta nova viagem com alegria, em vez de pena.
Volto a acenar. Compreendo as suas palavras. E esforço-me por manter o meu sorriso, não querendo que ele se aperceba dos meus verdadeiros sentimentos. Porque eu também o amara… e ainda amava… e amara toda a minha vida.
- E perdoar… perdoaste-me? - indago a medo e a doçura do seu olhar deixa o meu coração cansado a palpitar levemente.
- Nunca houve nada a perdoar. Eu é que devia ter-te protegido melhor. Mas ainda sou relativamente jovem e inexperiente. Não que isso possa servir de desculpa. Jamais devia ter permitido que presenciasses o que aconteceu, naquela noite.
Jovem… sorrio levemente. Sim, ele era jovem. E eu estava velha.
- E tu? O que farás quando eu partir?
- Adormecerei, durante uns tempos. Até a minha Alma sarar e o meu coração esquecer que te amou. E depois voltarei a ser enviado para aqui, para proteger e amar outra Alma Humana. Esse é o destino de todos os Guardiões.
Respiro fundo. Sinto-me cansada... algo temerosa. Peço-lhe a mão com um simples gesto e ele apressa-se a cumprir a minha vontade.
- Hazael… obrigada por me teres protegido. Quem me dera poder levar-te comigo nesta viagem. Tenho a sensação de que verei e conhecerei coisas extraordinárias.
- Quem me dera poder ir contigo… - ecoa ele num suspiro. - Mas os Filhos de Gaea nascem e cessam de existir em Gaea. Não somos entidades eternas e evolutivas, como os Humanos. Mas parte de mim estará sempre contigo. Porque a tua Alma foi tocada pela minha. Assim como a minha Alma foi tocada pela tua. E, nesse aspecto, partilharei da tua eternidade.
Deixo os olhos cansados fecharem e sorrio. Não me sinto mais sozinha. Já não tenho medo. A mão que segura a minha é grande e forte. A mão do ser que mais amo.
Sinto-o debruçar-se sobre mim e lábios quentes e suaves tocam-me a testa. O beijo mais terno que já recebi em toda a minha vida.
- Boa noite, Aliana. Bons sonhos e boa viagem.


Sophia CarPerSanti

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Mistério...

domingo, 29 de janeiro de 2012

Nativa

sábado, 28 de janeiro de 2012

Sou...


SOU...


Sou Vida sobre a Terra
Sou Alma em Aprendizagem
Sou Corpo Terreno e Mortal
Sou Espirito Eterno e Universal

Sou Criança brincalhona e irresponsável
Sou Jovem divertida e curiosa
Sou Mulher inteligente e amável
Sou Idosa sábia, avó extremosa

Sou um Momento, um Instante
Sou prolongamento Infinito
Sou Chama ardente e fulgurante
Sou Oceano calmo e pacífico

Sou a brisa suave por entre as árvores
Sou a terra que meus pés pisam
Sou o voo de todas as aves
Sou as tempestades que se avizinham

Sou Ser Consciente e Inconsciente
Sou corpo Mental e Emocional
Sou Chama Divina, sempre presente
Sou um Ser Humano, comum e banal

Sou Alegria Suprema exuberante
Sou Dor de Alma de tanto Amar
Sou átomos e moléculas, ser pensante
Sou Pó de Estrela, efusão estelar

Sou um habitante da Nave Terra
Que pertence ao Universo em Expansão
Viajo de Mundo em Mundo, de Terra em Terra
Espreitando e vivendo entre esta e aquela Dimensão


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Entrevista a Sophia CarPerSanti autora de "Noite da Alma"



Entrevista a Sophia CarPerSanti autora de "Noite da Alma"


Já sabemos que através da Internet temos oportunidade de conhecer novas pessoas e foi assim que conheci a escritora Sophia, autora de Noite da Alma. Gentilmente cedeu a responder algumas questões que me propus fazer-lhe e aqui está o resultado! Espero que gostem tanto como eu gostei! 


1 - Fala um pouco sobre ti.

Sou uma jovem de 32 anos, que espera vir a ser uma jovem de 40, uma jovem de 60 e, com alguma sorte, uma jovem de 80 anos.

Gosto de aprender coisas novas, pelo que já me debrucei sobre uma enorme variedade de temas mas, a nível mais formal (académico), licenciei-me em Educação Física e Desporto (licenciatura de 5 anos) e em Ciências Psicológicas, encontrando-me de momento a finalizar o Mestrado Integrado em Psicologia Clínica. Também estudei línguas, como o Inglês, o Espanhol, o Francês e o Japonês. Na minha lista de línguas a aprender encontram-se ainda o Mandarim e o Árabe.

Os meus gostos pessoais difundem-se pelas mais diversas áreas. Gosto de praticar actividade física, principalmente Voleibol, Iaido e tudo o que se encontre associado à música (Ginástica, Dança, Patinagem, etc.). Também dedico muito do meu tempo livre às Artes, em especial ao Desenho, à Pintura a Óleo e ao Artesanato.

Adoro ouvir música e, parte do meu cérebro, está sempre a cantar qualquer coisa. Não tenho nem estilos nem bandas preferidas, mas muitas canções que me acompanham, desde Fado, a Ópera, Bandas Sonoras (incluindo dos filmes da Disney), Metal Alternativo, Rock, JRock, JPop, etc.

Gosto de ir ao cinema e, embora não veja televisão, sigo as minhas séries preferidas via Internet, o que inclui a minha dose semanal e indispensável de Anime.

Viajar é outra das minhas paixões, a qual, felizmente, consigo alimentar pelo menos uma vez por ano.

Gosto de desafios, especialmente mentais, e de testar os meus limites e capacidades. Por esse motivo, gosto ainda mais quando sou surpreendida e as coisas se desenrolam de forma diferente daquela que inicialmente previ.

Acima de tudo, sou uma leitora compulsiva, tendo havido momentos, na minha vida, em que os livros eram o centro do meu mundo, pelo que andava com eles para todo o lado e até dormia com um ou dois volumes ao lado do travesseiro. :) Foi precisamente o gosto pela leitura e o fascínio pela possibilidade de criar novos mundos, novas vidas e novas histórias, que me levou a dedicar-me à escrita. Desde então, sempre que o mundo real me dá umas tréguas, é lá que a minha mente se encerra, por entre imagens, diálogos e acontecimentos que depois tento ‘passar para o papel’.

Actualmente, nada me dá mais prazer do que ter uma tarde livre para me sentar com o meu computador portátil, enrolada numa mantinha, e escrever. ^_^



2 - Quais as tuas influências e qual o teu género literário favorito?

Influências…? Várias. Muitas, mesmo. Desde os livros que li, aos filmes que vi e à vida das pessoas que me rodeiam.

No início, a maior influência provinha, claramente, dos livros, num sistema bem linear: Eu lia algo de que gostava e, a seguir, criava uma história semelhante, dava continuidade ao que tinha lido ou desenvolvia a história de uma das personagens.

Depois comecei a permear o que escrevia com outros factos, outros conhecimentos, até que passou a ser difícil determinar, concretamente, de onde proviera a ideia inicial.

Actualmente, reconheço que sou bastante influenciada pelas viagens que faço (principalmente a nível do setting onde as histórias se desenrolam) e pelos conhecimentos que fui adquirindo, tanto a nível académico, como através das pesquisas que faço quando dou asas aos meus interesses pessoais.

A colecção “Gaea” é bastante influenciada por áreas relacionadas com o Oculto e com a Espiritualidade, sobre as quais tenho vindo a debruçar-me ao longo dos anos, e que incluem tanto a Magia, como as Artes Divinatórias, as Religiões do Mundo, as Tradições Ancestrais, a Simbologia, os Mitos dos Povos da Antiguidade e as actuais correntes comummente denominadas como pertencentes à New Age.

Os meus géneros literários preferidos incluem o Romance, a Fantasia, o Fantástico, e a Ficção Científica. A bem dizer, gosto de tudo o que fuja ao mundo de todos os dias. Gosto ainda mais se, mesmo assim, a história possuir um elevado potencial de realidade.



3 - Quando soubeste que querias ser escritora e como foi o teu início na escrita?

Soube que queria ser escritora por volta dos 16 anos.

As minhas primeiras aventuras no mundo da escrita tiveram lugar quando tinha cerca de 10 anos e foram sob a forma de poesia. Nessa altura escrevia muito sobre a natureza e sobre as coisas que via e de gostava. Eram poemas curtos, de 3 ou 4 quadras, mas que, mesmo assim, deixavam a minha família toda deliciada. :)

A primeira vez que resolvi escrever em prosa devia ter uns 13 anos e ainda hoje guardo as folhas A4 que contam as aventuras de Griksla e Aifos, os meus dois primeiros heróis. No entanto, acabava sempre por me desinteressar dos meus projectos literários, principalmente porque, tal como disse anteriormente, eles eram moldados à imagem dos livros que lia e, por esse motivo, impregnados pelas emoções que me restavam, depois das minhas leituras. À medida que o empolgamento que sentia em relação a determinado livro ia diminuindo, o interesse que sentia pelo que estava a escrever também ia desaparecendo, pelo que acabava sempre por desistir.

No entanto, quando entrei para o 9º ano, tudo mudou. Foi então que conheci a minha melhor amiga. Como partilhávamos dos mesmos gostos e ideias, começámos a escrever juntas, uma coisa completamente nova. Escrevemos durante cerca de 9 anos e o fruto da nossa imaginação ocupa cerca de 80 cadernos A5. Até hoje, considero aquele o manuscrito mais louco e brilhante que alguma vez li e a sua complexidade deixa-me completamente atordoada, ainda mais porque metade foi escrito por mim.

Foi nessa altura que descobri o prazer de escrever e que fiquei completamente viciada na sensação.

Ainda no 11º ano iniciei um novo projecto, só meu, e o primeiro que levei em frente, intitulado “A Gema de Ominium”, do estilo Fantasia Épica. No entanto, com a faculdade pelo meio, a produção escrita teve de sofrer uma pequena diminuição.

Em 2008 resolvi mudar de estilo e experimentar algo novo e que, honestamente, achei ser incapaz de escrever. E foi assim que nasceu “Noite da Alma”, da colecção “Gaea”.



4 - Tens uma rotina ou horário de escrita ou deixas simplesmente a imaginação fluir?



Não tenho uma rotina.

Preferencialmente, escreveria todas as noites, da 1h am às 7h/8h am (que é o que habitualmente faço quando estou de férias). Mas como o ideal está longe de ser possível, escrevo sempre que posso, em qualquer lugar e a qualquer momento. Ando sempre com o caderno atrás e, quando não me é possível tirar o caderno de dentro da mala, escrevo no meu bloco de notas mental que, felizmente, nunca fica sem folhas e no qual já habitam alguns livros que tenho de passar para o computador.

Não elaboro projectos, antes de começar a escrever, embora saiba que deveria fazê-lo. No entanto vou tirando notas, principalmente a nível do tempo da história (chego mesmo a fazer calendários) e da descrição dos personagens. Quando estou em mundos diferentes, faço mapas e desenho cidades. Também já cheguei a desenhar alguns dos meus personagens, mas acabei por desistir. Embora goste muito de desenhar, não sou propriamente uma retratista e por isso ‘não tenho arte suficiente’ para passar as coisas para o papel, tal como as vejo na minha cabeça. Além do mais, gosto de permitir que os leitores imaginem os personagens que crio ao seu gosto, razão pela qual não quis fotografias na capa do meu livro.

Acima de tudo, gosto de deixar a imaginação fluir e nunca determino ou defino o fim de um livro que esteja a escrever, antes de efectivamente lá chegar. Gosto de ser surpreendida pelos meus próprios personagens. Eles é que me dizem como é que a história acaba.




5 - Por favor, fala-nos sobre o teu livro. Como surgiu a ideia inicial?

“Noite da Alma” foi o primeiro livro que escrevi num setting contemporâneo e a ideia inicial partiu de uma base bastante filosófica: Até que ponto o que consideramos ser o Bem é bom, e que consideramos ser o Mal é mau. Nele misturei muitos dos meus elementos preferidos: o romance, a magia, a inversão dos valores, a inevitabilidade e o poder que uma única decisão pode ter sobre as nossas vidas. Toca ainda temas como a religião, a reencarnação, a evolução das almas e as tradições ancestrais, segundo as quais o planeta Terra é um ser vivo, dotado de consciência e de um corpo próprio sobre o qual caminhamos.

Esta foi, também, a minha primeira tentativa de escrever um livro com um fim em si mesmo e que não fizesse parte de uma saga, como acontece com os livros que escrevi anteriormente. 

De resto, o livro é escrito pela Mari (personagem principal), que é o completo oposto de mim na maior parte das coisas, o que foi bastante divertido. Nunca tinha escrito nada na primeira pessoa que me obrigasse a deslocar-me tanto para fora de mim mesma e por isso foi um grande desafio e uma experiência bastante interessante.

À parte de Michael e Gabriel, os quais faziam parte do plano inicial, os restantes personagens foram surgindo à medida que ia escrevendo, e foram-se desenvolvendo e crescendo de formas, muitas vezes, surpreendentes, como é o caso de Lea, por quem me encontro perdidamente apaixonada. :)



6 - Quais os teus projectos futuros?

Para já, divulgar a “Noite da Alma” e conseguir que o livro chegue ao maior número de pessoas possível. E depois, quem sabe, editar os outros livros que já se encontram escritos dentro da colecção “Gaea”.

Assim que tiver um pouco mais de tempo, quero concluir o manuscrito que me encontro a desenvolver (“Sombra Branca”) e que, neste momento, se encontra completamente esquartejado, como se fosse um puzzle cheio de buracos. :) Quero ainda arranjar disponibilidade para dar uma boa revisão em “A Gema de Ominium”, que é um projecto que não pretendo abandonar.

Por último, e principalmente, continuar a escrever, sempre.



7 - Que conselhos darias às pessoas que sonham um dia verem os seus livros publicados?



Acima de tudo nunca, nunca desistir! Editar um livro é uma batalha que tanto pode ser vencida à primeira, como levar anos até que uma porta se abra.

Depois, é essencial que o escritor acredite em si mesmo. É claro que saber aceitar críticas é muito importante, mas saber quem somos e que escrita queremos produzir é ainda mais importante. É impossível agradar a toda a gente e se não nos mantivermos fiéis a nós mesmos, variando constantemente de acordo com as opiniões ou correndo atrás do que parece ser mais vendável ou mais interessante no momento, o mais certo é perdermo-nos, e o que escrevemos acabará por reflectir isso mesmo e deixará de ter alma. Um bom livro não é feito só de palavras bonitas e bem organizadas, de modo a formarem frases. Possui algo mais que o torna especial, que o faz brilhar, e que toca o leitor fazendo-o vibrar. Um livro assim só pode ser produzido se a mão que o escreve for honesta e obedecer à verdadeira natureza do autor.

Por último, e talvez o mais importante: Escrevam porque gostam, porque amam, porque adoram! Não vale a pena escrever porque gostaríamos muito de editar um livro, de ser famosos ou de ganhar dinheiro (até porque isso dificilmente acontecerá). Se escrevermos porque o simples acto de escrever nos dá prazer, nada nos pode derrubar. Nem as persistentes recusas das editoras, nem as críticas menos simpáticas, nem o facto de o nosso livro não ter tido o sucesso esperado. Como diz o ditado ‘Quem corre por gosto não cansa’. Alimentem-se a vocês mesmos, não fiquem á espera que sejam os outros a impulsionar-vos. Assim, se já nos encontrarmos em movimento pelas nossas próprias pernas, todos os empurrões que surgirem pelo caminho só vão servir para nos levar ainda mais longe. De igual modo, todas as pedras que nos fizerem tropeçar, nunca terão força suficiente para nos deixar eternamente estendidos no chão.




Perguntas rápidas:

Um livro: “A História Interminável”

Um autor (a): J. R. R. Tolkien

Um actor ou actriz: Johnny Deep

Um filme: “Braveheart”

Um dia especial: De sol, numa ilha deserta e tropical. A sombra de um coqueiro, uma brisa marítima, areia fina e macia, uma cesta de maracujás frescos, um bom livro à direita e um caderno e uma caneta à esquerda.

Um desejo: Um Portal de volta para casa.



E um grande obrigado à Sandra Sousa. ^_^