Noite da Alma - Booktrailer

terça-feira, 8 de maio de 2012

Magia e Religião: De Mãos Dadas



Magia e Religião: De Mãos Dadas

Tempos houve em que a Religião e a Magia se encontravam fundidas, significando uma e a mesma coisa. O Sacerdote ou o Xamã era tanto o Mago que manipulava as forças da natureza, como o curandeiro e o líder espiritual, que orientava a comunidade onde se encontrava integrado.

Actualmente encontra-se estabelecida uma barreira cognitiva entre a visão que se tem da Magia e da Religião, pelo que a primeira tem tendência a ser menosprezada ou criticada, e a segunda a ser aceite com naturalidade, sendo que é considerado normal uma pessoa seguir uma Doutrina ou uma Fé, mas uma ida à bruxa ou a prática de um Ritual Mágico é algo que só se confessa em segredo, timidamente e por entre amigos.
Mas até que ponto é que estes dois aspectos da Crença Humana são assim tão distintos?

Com origens ancestrais, a palavra Magia (que não deve ser confundida com a magia de palco ou o ilusionismo) provém da língua Persa magus ou magi, que significa ‘Sábio’. Da palavra magi derivaram ainda outros termos, os quais aplicamos hoje em dia, como ‘magistério’, ‘magistral’ ou ‘magno’.

Na Antiguidade, a Magia era considerada como a Grande Ciência Sagrada, responsável pelo estudo dos segredos da Natureza e a sua relação com o Homem, através dos quais foram desenvolvidas diversas teorias e práticas que tinham como objectivo o desenvolvimento e a expansão das capacidades internas, espirituais e ocultas do Homem, de modo a que este fosse capaz de conquistar o domínio total sobre si mesmo e sobre a Natureza, que ditava a base dos ritmos vitais.

Por esse motivo, as práticas Mágicas tinham como base a execução de rituais e cerimónias, que procuravam estabelecer o contacto com os aspectos ocultos do Universo e da Divindade.


Os seus antecedentes são tão arcaicos que se crê que o Homem primitivo já a praticava, através de desenhos nas paredes das cavernas, representando cenas de caça, que anteviam o seu sucesso.

Outra das práticas mágicas mais antigas praticadas prende-se com os rituais fúnebres e o desenvolvimento dos sistemas mitológicos divinos, através da nomeação das forças da Natureza (Apolo, o Sol; Neptuno, os Mares; Artémis, a Lua, etc…)´

A palavra Religião, por seu lado, provém do latim relegio, que significa ‘prestar culto a uma divindade’. Refere-se, assim, a um conjunto de crenças sobre as causas, natureza e finalidade da vida e do universo, considerando a Criação do mundo e de todas as formas de vida como o acto de uma entidade sobrenatural.

A maior parte das Religiões inclui, nos seus Escritos Sagrados, narrativas, tradições ou contos que se destinam a dar sentido à vida, e das quais se podem tirar elações morais e éticas ou leis religiosas. A palavra Religião é, ainda, muitas vezes usada como sinónimo de fé ou crença, embora difira de crença na medida em que a Religião é um sistema público e não apenas pessoal/individual.

A maior parte das Religiões implica uma série de comportamentos organizados, incluindo orações, hierarquias sacerdotais, lugares sagrados, escrituras e rituais, como determinadas celebrações.
Observa-se, assim, que, ao contrário do que a maioria afirma, a ponte entre a Magia e a Religião mantém-se, mesmo na actualidade, pelo que até os Escritos Sagrados de algumas das grandes Religiões do mundo não a negam, e até incluem a presença de Magos.

Por exemplo, segundo o Novo Testamento, o nascimento de Jesus é celebrado por três Magos e, no Velho Testamento, Moisés confronta os Magos do Egipto.

Nos Vedas, no Bhagavad Gita, no Alcorão e em diversos textos sagrados, verificam-se relatos semelhantes.

As actividades ritualistas praticadas pelas Religiões também preservam grande parte dos Rituais Mágicos dos povos antigos. A Hóstia Sagrada da Eucaristia é tomada pelo Espírito Santo, assemelhando-se a incorporação dos médiuns espíritas.

De igual modo, nas antigas festas romanas dadas em honra da deusa Ceres, o Arval, assistente do Grande Sacerdote, vestido de branco imaculado, colocava sobre a Hóstia (a oferenda do sacrifício) um bolo de trigo, água e vinho; provava o vinho e dava-o a provar aos presentes. A Oblação (ou oferenda) era então erguida pelo Grande Sacerdote.

Num paralelismo simbólico, os padres da Igreja moderna repetem muitos destes gestos durante a celebração da Eucaristia. Erguem e oferecem o pão para a consagração, benzem a água que deve ser posta no cálice, misturam o vinho que é partilhado com os restantes Sacerdotes, incensam o altar, etc.

Nos rituais da Antiguidade, o Grande Sacerdote dava três voltas ao altar, levando as oferendas, erguendo, acima da cabeça, o cálice coberto com a extremidade da sua estola feita de lã de cordeiro, branca como a neve.

Na Igreja Católica, a vestimenta consagrada, usada pelo Papa, Pallium, é de lã branca, com cruzes púrpuras ou pretas. E, na Igreja grega, o padre cobre o cálice com a extremidade da estola que traz sobre os ombros.

Os antigos acreditavam no poder dos Homens, e que através da Magia seriam capazes de comandar os deuses. Estes deuses são, na verdade, os poderes ocultos e latentes da Natureza. Actualmente, os crentes não têm a intenção directa de comandar Deus, mas negoceiam com Ele, fazendo pedidos em troca de pagamentos, a que denominam de Promessas: ‘Se o Senhor me conceder isto, juro que farei aquilo. Se não, nada feito.’

No fundo, poderia dizer-se que nos encontramos perante um Ritual de Magia, onde é necessário juntar uma série de ingredientes e orações para que o acto/milagre se realize, com a diferença de que as oferendas e sacrifícios só são feitas após o milagre e não antes, como os antigos faziam, como forma de agradar os deuses e assim cair na sua boa graça.

A grande fractura entre Religião e Magia, deu-se durante a Idade Média, no período da Inquisição, onde os Magos foram perseguidos, julgados e queimados vivos pela Igreja Católica, sob justificação de que a Magia provinha do Demónio e, como tal, tinha origem no Mal. Como se sabe, estas perseguições lançaram o mundo na conhecida Idade das Trevas, uma vez que os Magos eram, na verdade, os Sábios, os detentores do conhecimento e os primeiros pioneiros das várias correntes que vieram a dar origem a algumas áreas da filosofia e ciência contemporânea; conhecimento esse que se manteve perdido até à altura de Renascimento.

O paralelismo entre a Religião e a Magia estende-se em muitos outros campos, desde a oração repetida, que se assemelha às ladainhas mágicas, ao uso de ervas sagradas e às datas das principais celebrações religiosas, como o Natal ou a Páscoa, as quais tiveram origem nos momentos considerados, pelos Povos Antigos, como propícios à prática da Magia, por coincidirem com os ritmos mais marcantes da Natureza e dos Corpos Celestes.


- Sophia C.*